ONDE MORAR: ONDE MORAR-dificuldades na vida de um imigrante na Itália

domingo, 13 de setembro de 2020

ONDE MORAR-dificuldades na vida de um imigrante na Itália

 



1- Dificuldade em ter a cidadania reconhecida

Além do procedimento ser bastante burocrático e cheio de detalhes, a questão do prazo previsto em Lei não tem sido cumprida, nem pelos Consulados Italianos, nem pelos Comuni (prefeituras italianas). Eu estava na “fila” do Consulado aguardando o deferimento do meu processo desde 2006! E aguardei mais de sete meses para a conclusão do mesmo na Itália.

Hoje sei e, sem dúvidas, teria ingressado com uma ação na Itália questionando a ilegalidade da fila dos consulados, que já possui, até mesmo, decisões favoráveis nos tribunais italianos. Isso teria me poupado muita dor de cabeça.

Fiquei tão especialista no assunto que estou, inclusive, advogando para clientes que precisam da cidadania italiana e não querem ou não podem esperar a boa vontade dos funcionários públicos italianos.

2- Na Itália sou apenas mais uma imigrante

No Brasil, eu era advogada, gerente jurídica de um grande jornal, filha da Cleonice e do José, cliente especial de grandes bancos, com limites e créditos pré-aprovados e uma rede de contatos e amigos que hoje invejo muito.

Aqui sou apenas a Ana Paula, ponto final. Não tenho como ter referências pessoais, pois não conheço praticamente ninguém, não tenho histórico de crédito, não tenho emprego por prazo indeterminado (sonho de todo italiano). Ainda não tenho amigos, tenho apenas conhecidos. Aquele amigo de anos que você pode ligar de madrugada e contar em qualquer situação, boa ou ruim, simplesmente não existe mais. Claro que relações assim são possíveis em outro país, mas requerem tempo, doação e são construídas aos poucos.

3- A burocracia italiana é muito parecida com a brasileira

Na Itália também temos que superar a burocracia e tudo é muito difícil, ou parece mais difícil quando temos que fazer isso em curto prazo e outro idioma. Exemplo: você tem que (re)fazer todos os seus documentos – carta di identità (RG), codice fiscale (CPF) e tessera sanitaria (inscrição no INSS) e passaporte –, além de abrir conta em banco, traduzir e apostilar seus documentos, e fazer a equivalência do diploma.

Você perde uma quantidade de tempo absurda pesquisando e executando procedimentos para reiniciar a vida que já tinha superado no Brasil, e só se dá conta disso quando precisa de todos os documentos refeitos para ter uma vida como cidadão.

4- Dificuldade em alugar um apartamento

Este assunto merece um post à parte. Eu já tinha lido que na Itália (e até mesmo na Europa), não é fácil alugar um apartamento, mas a verdade é que muuuito mais difícil do que eu imaginava. Primeiro porque, inicialmente pedem um comprovante de renda na Itália, o que 99% dos imigrantes não têm.

Segundo porque, sem comprovação de renda, você tem que dar garantias de que tem como pagar o aluguel. Dar uma caução de 3 aluguéis é o mínimo. Geralmente pedem de 6 a 12 meses de aluguel de garantia, mais 1 aluguel adiantado e ainda mais 1 aluguel para o pagamento da imobiliária. E mesmo assim podem te recusar como locatário, sem cerimônia. Na maioria das vezes, os locadores preferem deixar o apartamento fechado a alugar para alguém sem renda comprovada.

E não dá para ficar fazendo muita conta, porque se você não quiser, tem uma fila de gente querendo. A verdade é que com o surgimento do aluguel por temporada (exemplo: Airbnb), a oferta de aluguel a longo prazo ficou muito menor. Consequentemente, seguindo o princípio de mercado, quando a oferta é menor do que a procura, os preços e as exigências aumentam consideravelmente.

Além disso, houve um aumento da imigração nos últimos 2 anos que inundou a Itália de imigrantes sem renda e, como consequência, aumentou substancialmente a quantidade de problemas de inadimplência imobiliária.

Some-se a tudo isso o fato de haver uma lei italiana que dificulta o despejo para casais com filhos menores de idade. Então resumindo, o italiano olha para você e vê: imigrante + ausência de comprovação de renda ou bens + filho pequeno = situação de risco = “No, grazie!” (Não, obrigado!)

Se você pensa em imigrar, pode se preparar para passar alguns meses pagando Airbnb até conseguir encontrar uma boa alma que aceite correr o risco de alugar algo a você.

Não acho que isso seja preconceito. Realmente é uma questão de se certificar para não correr risco. Coloco-me no lugar de um italiano e também teria medo de arriscar entregando o meu imóvel a alguém sem referências.


Nunca fui maltratada por nenhum italiano, mas ouvi de corretores que os locadores não queriam alugar os apartamentos para estrangeiros. Mais de uma vez.5- Preconceito

Também notei alguns olhares tortos quando falava português com a minha filha em locais públicos, ou quando o meu acento denunciava não ser italiana. Tenho sorte de ser branca, ter bom nível cultural e econômico, senão, com certeza, a receptividade das pessoas teria sido completamente diferente.

6- Saudade

Este tema já é esperado e todos os imigrantes precisam aprender a lidar. Todo mundo sabe que morar fora faz a saudade pela família, pelos amigos, pela comida e pela música aflorar. Dá saudade também de ser a pessoa que você era antes de imigrar.

Mas, apesar dos pesares, ainda considero a vida aqui melhor e não me arrependo da minha escolha. Faria tudo de novo se fosse necessário.

Arrivederci!

fonte-https://www.brasileiraspelomundo.com/dificuldades-na-vida-de-um-imigrante-na-italia-171066238

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